Há 35 anos, os líderes da American Society of Anesthesiologists (ASA) e as corporações que forneciam as principais tecnologias e produtos farmacêuticos para as práticas de anestesia uniram os esforços por meio da fundação da Anesthesia Patient Safety Foundation (APSF), a fim de melhorar a segurança dos pacientes durante os cuidados anestésicos. Essa colaboração foi uma novidade e gerou um enfoque contínuo e extremamente bem-sucedido na segurança do paciente em anestesia.

A avaliação da melhora é desafiadora, pois vários fatores perioperatórios desempenham papéis importantes. No entanto, independentemente das métricas usadas, fica evidente que a segurança intraoperatória dos pacientes aumentou muito nos últimos 35 anos.

Olhando para trás, quais os principais fatores que contribuíram para esse sucesso?

Confiança e valor compartilhado

A ASA, por meio da APSF, foi uma das primeiras organizações médicas profissionais dos Estados Unidos a integrar líderes corporativos aos conselhos constitutivos de medicina. Os possíveis conflitos de interesses foram deixados de lado em prol do valor compartilhado da segurança do paciente. A confiança entre os anestesiologistas e os membros fundadores corporativos da APSF foi crucial para o impacto inicial da fundação na segurança do paciente em anestesia. Esses líderes pioneiros foram capazes de juntar as corporações concorrentes, seus conhecimentos e suas tecnologias para reforçar a segurança do paciente, com os anestesiologistas da fundação dando ideias e as corporações desenvolvendo os avanços tecnológicos e farmacológicos. É gratificante que essa dedicada parceria médica e empresarial, baseada na confiança e no valor compartilhado da segurança do paciente, continue existindo atualmente. A parceria cresceu e agora inclui contribuições de todas as profissões do campo da anestesia, líderes de organizações perioperatórias, como a Association of PeriOperative Registered Nurses e a American Society of PeriAnesthetic Nurses, organizações cirúrgicas, empresas de gerenciamento de riscos e agências reguladoras.

Criação e implantação do novo conhecimento sobre segurança do paciente

Os fundadores da APSF compreenderam que o atendimento anestésico naquela época estava sendo prestado com uma escassez de conhecimento em relação à segurança do paciente e estava sujeito às variações de habilidade e conhecimento do profissional de saúde. Os fundadores criaram uma missão inicial para fomentar investigações que intensificavam o entendimento das lesões anestésicas evitáveis. A ASA, os patrocinadores corporativos e indivíduos fizeram doações financeiras para desenvolver o primeiro programa do mundo de concessão de subsídios à segurança do paciente em anestesia. Uma característica exclusiva desse programa era a disponibilidade de auxílio aos pesquisadores não anestesistas como por exemplo, cientistas organizacionais e de segurança do paciente, sociólogos e outros. Esse programa existe até hoje e concedeu mais de US$ 13,5 milhões a 145 pesquisadores. Os resultados dos estudos desses pesquisadores foram e continuam sendo imensamente importantes para o nosso entendimento da segurança do paciente em anestesia, gerando melhorias drásticas para os pacientes.

Disseminação de informações e ideias sobre a segurança do paciente

Desde o começo, o objetivo da APSF era promover a comunicação nacional e internacional de informações e ideias sobre as causas e a prevenção das lesões causadas pela anestesia. O Boletim da APSF é uma das publicações sobre anestesia mais lidas e distribuídas do mundo. Nos últimos anos, a APSF ampliou seus esforços para aumentar a disseminação internacional das informações de segurança do paciente em anestesia. Atualmente, o Boletim é publicado em seis idiomas e tem leitores em todos os países. No ano passado, seus leitores visualizaram mais de 1,5 milhão de páginas de conteúdos. O Boletim fornece informações atuais sobre as questões prioritárias de segurança do paciente da APSF, além de outros assuntos de segurança que são importantes para os profissionais de anestesia no mundo todo.

Enfoque preciso na segurança do paciente

A APSF possui apenas uma meta: melhorar a segurança do paciente em anestesia. Os princípios fundamentais da APSF mudaram muito pouco ao longo desses 35 anos. Esse é um ponto marcante da fundação, que tem um enfoque consistente e persistente na segurança do paciente. Por ser uma fundação pequena, ela é ágil e flexível na resolução de problemas prioritários. Quando uma abordagem não funciona, outras podem ser adotadas, sendo fácil e rápido avaliar o êxito de cada uma. Além disso, a fundação é apartidária, evitando controvérsias que desviam o foco.

É verdade que em seus 35 anos de existência a APSF teve muito sucesso, mas é preciso fazer muito mais para garantir que os pacientes submetidos a cuidados anestésicos permaneçam em segurança durante todo o período de cuidados perioperatórios. Por exemplo, precisamos direcionar esforços para os seguintes tópicos:

• O bem-estar de colegas que prestam cuidados perioperatórios, pois está cada vez mais evidente que a capacidade limitada de alguns profissionais de anestesia e de outras áreas da medicina afeta negativamente a segurança do paciente. Para isso, a APSF modificou sua visão para incluir todos os profissionais de saúde, bem como os pacientes. Atualmente, sua visão é a de que “nenhum paciente deve ser prejudicado por cuidados anestésicos”.
• Pesquisa e implantação de programas efetivos de aprimoramento clínico direcionados à segurança do paciente durante todo o período dos cuidados perioperatórios. A APSF está estabelecendo parcerias com fundações e organizações da área da anestesia, como a Foundation for Anesthesia Education and Research e a World Federation of Societies of Anaesthesiologists, bem como fundações que não costumam ser consideradas como pertencentes do campo da anestesia, como a Patient Safety Movement Foundation, American College of Surgeons e o Institute for Safe Medication.
• Iniciativas para difundir mais amplamente as informações de segurança do paciente. O Boletim da APSF está se expandindo para incluir um novo componente on-line, e há planos para a tradução para mais idiomas. Atualmente, o Boletim é disponibilizado em inglês, japonês, chinês, português, espanhol e francês. As iniciativas das redes sociais da APSF estão crescendo para que a fundação alcance com maior eficácia a geração mais nova dos nossos colegas pelo mundo. Facebook, Twitter, Instagram e podcasts agora fazem parte das redes sociais da APSF e sua popularidade está crescendo.

O futuro e os princípios fundamentais

Embora não seja possível prever como serão os próximos cinco anos e, menos ainda, os próximos 35 anos, a APSF tem princípios essenciais consagrados que concentrarão os esforços para segurança do paciente longe no futuro. Mesmo que a fundação possa mudar ao longo do tempo, são esses princípios fundamentais que sustentarão as contribuições positivas para a segurança do paciente em anestesia. Esses princípios são:

• Identificar iniciativas de segurança e fazer recomendações que devem ser implantadas diretamente e com as organizações parceiras
• Ser uma voz de liderança mundial para a segurança do paciente em anestesia
• Promover e disseminar a cultura, o conhecimento e o aprendizado sobre segurança do paciente em anestesia.

Nossos sinceros agradecimentos também aos fundadores da APSF e à visão inicial de que “nenhum paciente deve ser prejudicado pela anestesia”. A contribuição deles à especialidade de anestesiologia e a todos os pacientes merece nossa maior homenagem, e esperamos que possamos igualar as conquistas deles no futuro.

 

Mark Warner, MD, é o atual presidente da APSF, professor da Annenberg e ex-diretor de Anestesiologia, Mayo Clinic, Rochester, Minnesota.

Robert Stoelting, MD, foi presidente da APSF antes de Mark Warner e é professor emérito e diretor de Anestesiologia, Indiana University, Indianápolis, Indiana.

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As autoras não apresentam conflitos de interesse.

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